7.06.2015

SIBA E A MINI-DESORQUESTRA DE BAILE SOLTO E RIMA

Cantor Siba apresenta universo expandido das tradições do maracatu de rua pernambucano e proporciona o incrível dialogo entre o rural e o urbano.  



Em seu segundo álbum solo, Siba não é nenhum iniciante já que gravou outros sete discos em outros projetos. Foram três com a banda 'Mestre Ambrósio', que no meio do 'mangue-bit' seguia caminho inverso voltando às raízes do maracatu pernambucano. Nos outros quatro álbuns, Siba seguia o mesmo rumo iniciado no princípio – dois discos com 'A Fuloresta do Samba' e um com Barachinha e outro com Roberto Corrêa.

Siba parecia fadado a prestigiar com a rabeca o seu peculiar talento de inovar nas narrativas ritimicas, não fosse o nascimento de 'Avante' – o primeiro álbum solo, que trazia todas as tradições da Mata Norte e do carnaval de rua pernambucano, mas tudo misturado com a vivências do cantor. Foi quando ele popularizou o som ao proporcionar o diálogo da guitarra com a tuba. Dessa forma, todos outros álbuns convergiram para este ponto como fosse premeditado.

'De Baile Solto' carrega todo um diálogo iniciado em 'Avante', que por sua vez com todos precedentes. O que Siba conseguiu com essa obra, não pode ser mensurada hoje sem levar em conta os anos passados. No carnaval de 2014, Siba defendeu a tradição dos ensaios de maracatu de rua, contra a interrupção as duas da manhã, da mesma forma como defendeu o Complexo Estelita de se tornar um empreendimento imobiliário.

É dessa forma que o álbum 'De Baque Solto' inicia – com a mais poderosa e bela canção de protesto de todos os tempos. Esqueça o Vandré ou o Buarque e ouça o Siba em 'Marcha macia'. Com versos poderosos Siba profetiza, “acorda, amigo, o boato era verdade... A nova ordem tomou conta da cidade. É bom pensar em dar no pé, quem não se agrade. Sendo você, eu me acomodaria...”. Putaqueopariuuuu... Isso cabe pro #ocupeestelita, #wallstreet, #lovewins e tudo mais #### que puderem imaginar...

'Gavião' havia sido gravada anteriormente pelo 'Mestre Ambrósio' e tinha uma pegada mais animada, mas essa nova gravação ressalta a narrativa sobre a ave de rapina. 'Mel tamarindo' mostra definitivamente que “quem manda é a tuba”, como diz o próprio Siba. 'Três desenhos' demonstra exuberante arranjo com xilofones em contraponto com a tuba, desenhando a melodia com fosse uma cobra, labaredas e “milhares de esqueletos”.

Em 'Três Carmelitas' Siba volta a lembrar da infância evocando o presente. Coisa mais bela de se ouvir. 'Quem é ninguém' trás de volta a veia política de Siba, quando evoca a sociedade atual. 'De baile solto' mostra a única canção instrumental que denota uma montanha russa de emoções ao ouvinte atento. 'A jarra e a aranha' brinca com aliterações e ditados trava-línguas. Impossível de cantar junto com Siba.

Outra canção épica de extrema beleza é 'O inimigo dorme', que parece continuação direta de 'Bravura e brilho'. 'Meu balão vai voar' encerra bem o álbum com um solo fenomenal de Siba – coisa inexplicável de tão boa... Deixa um gostinho de quero mais...

O fato é que 'De Baile Solto' é um disco épico. Um disco que dialoga com toda a obra anterior do cantor. Um álbum que pode ser o segundo de uma trilogia, iniciada em 'Avante'... Uma obra ímpar. Inquestionável.

2015 De Baile Solto

1. Marcha macia
2. Gavião
3. Mel tamarindo
4. Três desenhos
5. Três Carmelitas
6. Quem é ninguém
7. De baile solto
8. A jarra e a aranha
9. O inimigo dorme
10. Meu balão vai voar

Nenhum comentário: